O Fator Mental: O Limite de Cada Um
The Mental Factor : The limit of each one
Caminhar é
uma necessidade humana. Quando o
ancestral do homem, o Australopithecus tomou a atitude de se locomover
sobre os membros inferiores para
observar acima da vegetação das estepes africanas e não ser uma vítima fácil de
predadores, ele passou a enxergar e ouvir diferente. Símios comuns não
conseguiram desenvolver tal adaptação
motora. Os eqüinos desenvolveram tamanho, força e pescoços alongados para compensar o esforço de andar
sobre quatro patas. Cinco milhões de anos nos separam da incapacidade de andar sobre nossas
pernas.
Walking is a human need. When the man's ancestor, Australopithecus took the attitude of getting on the lower limbs to observe above the steppe vegetation in Africa and not be an easy victim of predators, he came to see and hear differently. Common apes failed to develop such motor adaptation. The horses presented size, strength and lengthened neck to compensate for the effort to walk on four legs . Five million years separate us from the inability to walk on our legs.
Em nossa rotina diária, trabalho, escola,
família, não paramos para analisar estes aspectos fisiológicos incríveis, por isso o sedentarismo e o stress tenham tomado o próximo ponto
evolutivo de adaptação ao nosso futuro mundo, cada vez mais não-natural. Os seres humanos, como eu e
você, que caminham diariamente estão fazendo simplesmente o mesmo ciclo de
movimentos de seus ancestrais, reagindo a gravidade da terra, não ficando
parados, movendo ossos e músculos, produzindo ácido lático e endorfina, esses talvez compreenderão essa experiência...
In our daily routine, work, school, family, do not stop to analyze these amazing physiological aspects, so sedentary lifestyle and stress have taken the next evolutionary point of adapting to our future world, increasingly unnatural. The human beings, like you and me, who walk every day are simply doing the same cycle of movements of their ancestors, reacting to gravity of the earth, not staying still, moving bones and muscles, producing lactic acid and endorphins, these people might understand this experience ...
No ano de
2000 eu comecei uma série de caminhadas urbanas. Caminhadas
rápidas de 8 a 10km. Com o passar de
alguns meses foram ficando mais longas 12, 15 e 20km. Depois de meses
praticando exercícios periodicamente,
qualquer que seja a modalidade esportiva,
você acredita que chegou em um pico de preparo físico e que pode ir mais longe. Normal. O
problema é: A mente pode mais que o corpo. Maratonistas ganham provas com
incrível capacidade de aguentar extremo stress
físico e mental. Todos treinam, se alimentam corretamente , possuem o mesmo
peso e força. São basicamente idênticos estruturalmente. No dia da prova o que
define o ganhador sempre é a estratégia e o fator mental. Fator Mental.
In 2000, I began a series of urban hikings. Short walks from 8 to 10km. Over a few months were becoming longer 12, 15 and 20km. After months of practicing exercises regularly, whatever the sport, you believe arrived at a peak of fitness and can reach further. Normal. The problem is: Can the mind more than the body. Marathoners gain evidence with incredible ability to endure extreme physical and mental stress. All train, feed properly, have the same weight and strength.They are basically identical structurally. At race day what defines the winner is always the strategy and the mental factor. Mental factor.
O etíope Abebe Bikila, acostumado a correr descalço, foi o primeiro homem a vencer duas maratonas olímpicas seguidas
Abebe Bikila Ethiopian, accustomed to running barefoot, was the first man to win two Olympic marathons followed
O que me
moveu a fazer tais caminhadas, além do mal que o sedentarismo e o cigarro estavam me fazendo, aumentando meus problemas de
bronquite e acabando com o meu sono, foi o clima cultural de “fim do
mundo” na virada do milênio. Todo mundo tinha sua versão de como seria o fim do
mundo e eu não queria ficar esperando para tomar alguma atitude. Não
acreditava que o mundo iria acabar, mas com 21 anos de idade você tem a impressão que o fim do mundo, se vier, irá ser nos próximos dois dias. Eu e mais alguns amigos dividíamos
a mesma idade e impressão das coisas, todos caminheiros, topamos um desafio: Caminhar de Taguatinga-DF até Padre Bernardo – GO
What moved me to do such walks, off the evil that sedentary lifestyle and smoking was making me, increasing my problems with bronchitis and killing my sleep, was the cultural scene of "doomsday" at the end of millennium. Everyone had their version of it and I did not want to wait to take some action. Not believed the world would end, but with the age of 21 you have the impression that the end of the world if it comes, will be in the next two days. Me and some more friends we shared the same age and printing of things, all walkers, we ran a challenge: Walking to Taguatinga-DF for Padre Bernardo - GO
A caminhada começaria com um de nós saindo de Taguatinga (centro) até Ceilândia (centro)
8Km onde este encontraria outro
caminheiro, que me encontrariam no
extremo da Ceilândia norte, mais 3km.Todos juntos entraríamos na Flona saindo
até a BR – 080 sentido DF-01 indo em direção Brazlândia pelo rodeador e depois
BR-080 direção Padre Bernardo- GO. Todo o itinerário era em área rural e
isolada. Muitos Bikers fazem essa trilha, mas poucos corredores e caminheiros a fazem. Até antes, eu
só tinha feito caminhadas de até 20km, naquele momento iria encarar mais de 100
km. Irreal. Com certeza. O que me movia a fazer isso? O fator mental!
A linha vermelha foi a idéia do percurso programado para essa caminhada, a azul foi o que caminhamos e branca o percurso de ônibus até Brazlândia
The red line was the idea of the route scheduled for this walk, which blue that´s the way we really walked and the line in white the bus ride to Brazlândia
The red line was the idea of the route scheduled for this walk, which blue that´s the way we really walked and the line in white the bus ride to Brazlândia
The walk would start with one of us leaving Taguatinga City(comercial center) until Ceilândia City (center) 8Km to find another walker, they would find me in the extreme north of Ceilândia 3km further. Together, we would enter in Flona (National Forest) trail until the BR - 080 direction to DF-01 going toward Brazlândia follow the road till Padre Bernardo-GO. Whole Walk would be in a countryfield and isolated area. Many bikers did this track, but few runners and walkers did it. Even before I had only did 20km but this time would face more than 100 km. Inreal. Sure. What moved me to do this, the mental factor!
A estratégia
era caminharmos até o Rodeador (uma área a norte no mapa do DF com a maior
altimetria da região, 1.3000m/alt) com um ponto de parada próximo ao Poço Azul(local
turístico de banhos em cachoeiras), até lá 35 a 40 km , pernoitar e no outro dia
cedo continuar até chegar em Brazlândia, e dali seguir até Padre Bernardo. Voltaríamos de ônibus. A caminhada inicial seria em sentido
contrário ao destino.
The plan was we walk to the Rodeador (an area north of the map of Distrito Federal (Brasília) with the highest altitude in the region, 1.3000m/alt) with a breakpoint near the Poço Azul (tourist spot bathing in waterfalls), there 35 or 40 km, stay overnight and continue the next day early to arrive at Brazlândia foward to Padre Bernardo after. The initial hike would be contrary to the sense target.
Poço Azul - Região do Rodeador (Noroeste do Distrito Federal)
Poço Azul- Rodeador Region (Distrito Federal -Northeast)
Era dezembro
e a incidência de chuva daquele ano foi espetacular! Esperamos o primeiro
momento de trégua no tempo para irmos. Quando este momento surgiu nos
encontramos em uma tarde daquele mês, como havíamos combinando. Saímos em rumo
a Flona por volta das 14:00 (horário de verão). Mal agasalhados, sem água e com
algum dinheiro pra comer no caminho. Programamos 36 horas de caminhada.
It was December and the incidence of rainfall that year was spectacular! We expect the first moment of good weather to go. When this moment came, in a afternoon, we found ourselves in that month, as we matched. We left in the direction Flona around 14:00 (DST). No Coats, without water, with some money to eat on the way. We scheduled 36 hours of hiking.
A trilha na
Flona estava boa mas muito alagada. Em pouco mais de 2 horas saímos da
floresta, essa foi a parte mais tranqüila da caminhada até então. Conversa-se
muito nas primeiras horas de uma caminhada, e é muito natural isso ocorrer pois um campo
de visão aberto aumenta o banco de expansão
sensorial da memória, fazendo uma espécie de “back-up”onde outros sentidos também ficam aguçados, olfato e audição principalmente. O sol não saiu naquela tarde, mas o
mormaço estava terrível. Pelo asfalto em
direção a DF -01 depois de 4 horas caminhando fizemos pequenas corridas de
1.500 metros para não travar as pernas caminhando. Isso é importante: depois de
algumas horas caminhando, as pernas tendem a ficar muito rígidas por causa da
produção intensa de ácido lático e pelo
impacto e ritmo regular impostos. Fazer pequenos tiros correndo ajuda a “destravar”
os músculos para depois retomar com menos dor à caminhada. Até aquele ponto, naquele ritmo faltava ainda umas 4 horas para o ponto de descanso.
The trail on Flona was good but very flooded . In just over two hours we left the forest, this was the most quiet part of the walk so far. Talk up very in the first hours of walking , and it is very natural that occurs because an open field of vision increases the bank sensory memory expansion , making a sort of " back-up " where others senses are also keen , smell and hearing mostly. The sun did not come out that afternoon , but the heat was terrible . We walk by the road toward DF -01 after 4 hours walking. We made small runs 1,500 meters to not lock the legs. This is important : after a few hours walking , the legs tend to be very strict by the intense production of lactic acid and the impact step and regular rhythm . Make small shots running helps " unlock " the muscles to walk after with less pain . That point, in that rhythm , we had scheduled rest still 4 hours to the breakpoint .
ENGOLIDOS PELA TEMPESTADE
Swallowed By The Storm
Lá pela
sexta hora de caminhada, já andando em estrada de terra regular,nos deparamos
com a possibilidade de chuva forte, vindo exatamente em nossa direção. E iria
chover muito mesmo. No fundo torci para que ela mudasse de direção. Não tínhamos
para onde correr, ela estava realmente no nosso caminho e não havia outra opção a não ser
voltar ou parar, qualquer opção que tomássemos, em todas elas, ficaríamos completamente
encharcados! Continuamos. Havia mais de 2 horas que a conversa tinha acabado. Apenas
olhávamos uns aos outros em uma conversa facial silenciosa e curta. Raios iluminavam aquelas nuvens
escuras e pesadas que se formavam a minha frente. Embaixo delas eu observava aquela
piscina cinza e flutuante enorme que rapidamente iria me alcançar.
In six hour since walking on the road, in regular walk, we faced with the possibility of rain, it coming right and fast toward us. And it would rain very much. I hoped that it would change direction. We had no where to run, it was really on our way and there was no other option, go back or stop, any option that we took, in all of them ,would be completely soaked! We get aready. There were more than two hours that the conversation was over. As we looked at each other in silent conversation, just short facial views. Lightning lit up those dark and heavy clouds that were forming in front of me. Beneath them I watched that huge gray and floating pool that would quickly reach me.
Eu já estava começando a ficar amedrontado
com a possibilidade de um choque
hipotérmico naquela estrada isolada, sem celular e com pouco agasalho que
nada adiantava. E ela, a chuva, chegou. Uma tempestade imensa. Pingos
grossos caiam . Em um instante molhou tudo. Ficou difícil caminhar na lama com
o tênis grande e pesado. E ela não
passava. Nós sabíamos que ela iria ficar muito tempo. Cada minuto parecia uma
hora. Sentindo a temperatura do meu corpo baixando, eu olhava os dedos das minhas
mãos completamente enrugados e evitava pensar em como estava a situação real dos
meus pés. Andamos ainda por um bom tempo hipnotizados pelo ritmo das pernas e o som das passadas. Nesse momento você pergunta a si mesmo como foi parar ali e por que motivo decidiu fazer aquilo. Não
bastava andar as distancias que já fazia. Que respostas queria achar encarando
uma tempestade daquelas. Não havia sentido. Só havia perguntas.
I was already starting to get frightened by the possibility of a hypothermic shock at that road alone, no cellphone, with little coat that was useless. And it, the rain came. A huge storm. Heavy drops fall. In an instant all was wet. It was difficult to walk in mud with large and heavy shoes. And it would not over. We knew she would stay long time there. Every minute seemed like an hour. Feeling my body temperature dropping, I watched the fingers of my hands completely wrinkled and avoided thinking about how was the actual situation of my feet. Still walked for a while hypnotzed by the rhythm of the legs and the sound of steps. Right now you ask yourself how you got there and why you decided to do that. It was not enough to walk the distances that you already did. What answers you will find facing a storm like that. There was no point. There were only questions.
Achamos
uma parada de ônibus na margem esquerda da estrada. Ela era pequena e mal feita, coberta
por um telhado de zinco furado. Sentamos os três e decidimos esperar ali. Era
impossível continuar andando. A tempestade nos sugou. Naquela hora nada era
mais tão belo, a natureza, o sol, as nuvens. Aquilo não tinha mais uma beleza
artística, nem divina. Aquilo era a dura realidade. Cruel, implacável. Naquele
momento entendi porque o homem buscou o caminho do conforto e do acomodamento.
Nos acostumamos a esse mundo natural
fugindo de sua imparcialidade evolutiva, onde sobrevive os que melhores se
adaptam. Resolvemos isso não aceitando o natural, modificamos a nossa realidade natural. Artificializamos tudo para não passar mais por aquilo. Naquele momento sabia que não eu não iria concluir o desafio. Acabou ali.
We found a bus stop on the left bank of the road, it is small and botched, covered by a roof of zinc. We sat and decided to wait there. It was impossible to continue walking. The storm swallowed us. At that time it was nothing so beautiful, nature, the sun, the clouds. That was not an artistic beauty, almost divine. That was the hard reality. Cruel, relentless. At that moment I understood why the man look for comfort and abundance. We decided that not accepting the natural, we modify our natural reality. Artificially all things to don't never suffer again for it. At that moment I knew there would not complete the challenge.It's over there.
Meus amigos viram
que eu estava tremendo de frio e que minha
resitência física estava acabando, mesmo estando a poucos kilometros do ponto proposto
para a pausa da caminhada. Decidiram que iríamos de ônibus até Brazlândia que
estava 20km a oeste. Depois de algum
tempo pegamos o ônibus. Ficamos em silêncio o tempo todo. Eu não iria continuar a caminhada. Pegaria outro ônibus
para casa. Em Brazlândia embarquei de volta e eles continuaram a caminhada noite adentro. Fiquei
frustrado por não ter conseguido ir com eles ,mas cada um tem seu limite.
Naquele dia aprendi a respeitar o meu. Cheguei em casa quase as 23:00. Como foi
bom tomar um banho quente e me deitar com um monte de cobertores. Foram no total 8
horas de caminhada. Duas delas embaixo de chuva pesada. Talvez se não houvesse tanta chuva teríamos conseguido cumprir o percurso. Dois dias depois, um dos meus
amigos que continuaram a caminhada a partir de Brazlândia me ligou e disse que estava
completamente contundido. Disse-me que naquela
noite abrira um lindo céu de estrelas , mesmo assim desistiram e pegaram um ônibus
na estrada as 00:00 que os trouxeram de volta.
Ahh, eu também fiquei completamente contundido.
My friends saw that I was shivering and my resistance was ending , even though a few kilometers from the proposed point to break the journey. We decided that were going by bus to Brazlândia which was 20km west . After some time we took the bus . We were silent the whole time . I would not continue to walk . Would catch another bus home. In Brazlândia boarded back and they continued to walk through the night . I was frustrated by not being able to go with them , but each one has its limit . That day I learned to respect mine. I got home about 23:00. How good was taking a hot bath and lie down with a lot of blankets . Were total 8 hours of hiking . Two of them under heavy rain . Maybe if there was no rain would have managed the tottal route. Two days later , one of my friends who continued to walk from Brazlândia called to me and said he was completely bruised . He told me that night of walk, that opened a beautiful starry sky , still gave up and took a bus on the road 00:00 that brought them back. Ahh , I also was completely bruised .
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